terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ao mestre com carinho

Há exatos 53 dias eu tive a notícia que mais temi durante toda a minha vida. Meu pai tinha falecido. Deus o havia chamado para perto dele.
Ás 08:30 do dia 13, uma sexta-feira, sexta-feira 13, o telefone tocou. Era minha mãe, com voz calma mas triste. Ela dizia que meu pai havia passado mal e os médicos haviam desenganado, mas depois me disse que ele havia morrido, que não tinha jeito.
Eu fiquei estática, sem reação, não conseguia chorar. Meu coração acelerou, comecei a tremer, fiquei gelada. Só consegui dizer: A gente tem que aceitar, ele fez tudo o que sempre quis.
Minha mãe estava preocupada com a minha reação, eu dizia que estava bem.
Desliguei o telefone e aí veio o choro. Era uma dor tão grande, uma sensação que nenhum grito, choro, nada poderia expressar tudo o que eu sentia.
Eu comecei a ligar para as pessoas, pedir para alguém ir até o apartamento, porque eu estava sozinha, não queria ficar sozinha.
Eu queria me teletransportar para São Paulo, só pensava que eu precisava dar um abraço nela e no meu irmão. Eu já não me cabia mais alí.
Foi uma correria, a gente entrou na internet para procurar passagem, pedi para o karlos arrumar a minha mala. Eu só conseguia chorar, não conseguia pensar em nada....eu não podia acreditar naquilo tudo que estava acontecendo.

Depois de esperar até o meio da tarde, cheguei em Congonhas. Já havia algumas pessoas me esperando, meus primos. Eu achei São Paulo tão hostil, estava odiando ver aquele lugar que, normalmente era motivo de alegria, onde eu desembarcava e era recebida por ele, pela minha mãe. Todos bem e felizes por me reencontrar.

Eu revivia cada caminho que passava, lembrava de quando eles iam contando o que tinha acontecido. Que coisa ruim...

Já em casa, ele parecia estar em toda parte. O computador que ele sempre mexia, a janela onde ele ia fumar, não podia me esconder das lembranças. Mas elas me machucavam, era como se eu pudesse vê-lo ali, assistindo a tudo, triste, também sem acreditar.

Eu contava os minutos para ir ao velório. Não que eu quisesse vê-lo daquele jeito, mas porque eu sentia uma mistura de medo e falta de conformismo. Eu enrolei para ir até o lugar, não queria comprovar aquilo o que já tinha ouvido.

Nunca tinha ido a um velório, sempre dizia que nunca iria, nem dos meus pais. Que iria preferir ficar em casa, rezando, do que ter que ver a pessoa daquela forma, etc.

Quando cheguei lá, logo na entrada vi uma placa com o nome dele, orientando qual sala estava sendo velado. Eu olhava....lia o nome dele e não conseguia ligar uma coisa a outra. Era como se eu lesse meu próprio nome nas manchetes do New York Times. Era algo surreal. Não podia ser ele.

Mas realmente tinha acontecido, demorei para me aproximar, não quis tocar nele em momento algum. Fiquei a noite toda pensando nos momentos vividos, no que ele já havia me dito, sobre diversos assuntos. E durante todo o tempo a música que ele gostava tanto, "Sonho de Ícaro", tocando na minha cabeça, não saia de mim por mais que eu tentasse. Talvez ele estivesse ao meu lado, cantarolando essa música e se inspirando nela para partir.

Em um certo momento, eu olhei para o rosto dele e vi uma pinta que nunca havia visto, nunca. Ai eu, num momento de surto pensei: Nossa, talvez não seja ele, pode ter sido engano, olha essa pinta...não é ele".

Chegou finalmente 10:00...aconteceu o enterro. Eu via tanta gente mas não registrava quase os rostos, as reações. Eu só pensava...to enterrando meu pai, é meu pai ali.

Depois que tudo foi concluído, consumado e voltei para casa. Para a casa onde ele não estava mais.

Depois destes 53 dias, o sentimento é confuso. Existem momentos onde eu lembro dele com alegria, fico conformada. Outros me bate um desespero, uma saudade sem fim, uma dormência pelo corpo, como se ele quisesse rejeitar que isso realmente aconteceu. Me incomoda os momentos onde lembro que não poderei mais receber um email dele contando de algo sério ou que apenas estavam comendo pizza ou rabanada. Me dói pensar no meu casamento, nos momentos que virão e ele não estará por perto.

Mas o que predomina é o sentimento que eu fui a melhor filha que pude ser, que ele foi um pai que me amou e, mesmo em alguns momentos tendo vacilado, sei que ele sempre fez de tudo para nos ver bem, para nos encaminhar na vida. Ele era uma pessoa com um coração muito bom, nunca, JAMAIS vi meu pai falando mal de alguém, vir contar fofoca. Ele odiava isso, recriminava aqueles que faziam isso perto dele. Herdei a garra, a força, os pés, as mãos, enfim, muita coisa que me admiro e que me fazem ser a Fabrícia que eu sou hoje.

Pai, aonde você estiver agora saiba que te amo infinitamente e que rezo para que o seu caminho agora e sempre seja sempre de muita luz. Com muita pesca, música, cantorias e piadas. Com tudo o que você gostava e tem direito.

Te amo demais!

1 Comentários:

Blogger OSNY disse...

Cara Fabrícia,

No céu, certamente o seu pai deve estar agradecendo a filha que tem, e o amor que ela lhe dedicou.
Um abraço,

11 de agosto de 2008 às 11:35  

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